Oh, há lá coisa melhor que começar esta semana - e recomeçar com os posts frequentes - com o início da nossa road trip pela Islândia!
Não sei se já vos contei por aqui, mas um dos meus sonhos de miúda era andar de auto-caravana. Tenho um fascínio gigante por 'casas' andantes, sejam elas em cima de rodas na estrada ou de um casco no mar. Sendo assim, a nossa viagem de lua-de-mel, aquela viagem que se quer irrepetível e, acima de tudo, inesquecível, tinha de incluir o realizar deste meu sonho!
Com todos os afazeres de um casamento que uma noiva não pode descurar, pouco tempo me sobrava para mais esta tarefa por isso, deixei tudo nas mãos do mais-que-tudo. Não queríamos tours organizadas porque queríamos fazer as coisas ao nosso ritmo, e com a autocaravana, esta ideia foi tomando forma na nossa imaginação e já não havia espaço para que nos dissessem que no dia x, às horas y, tínhamos de estar no local z. Não! Queríamos ir ao sabor do vento, parar onde nos apetecesse, às horas que nos apetecesse e ter um plano que não fosse demasiado rígido, para nos permitir visitar sítios que descobríssemos, ao acaso, pelo caminho.
A Islândia só tem uma estrada alcatroada (ou pouco mais), a Hringvegur, ou ring road. O resto são estradas de gravilha onde andar com uma auto-caravana se torna extremamente penoso. Se não conseguem perceber o porquê, imaginem só a loiça toda a tilintar e terem de ter a preocupação de enfiar todos os vossos pertences em armários bem fechados para evitar que voem por todo o lado.
Posto isto, lá fomos levantar a auto-caravana que tínhamos alugado e resolvemos meter os pés - ou rodas! - ao caminho.
Gostava de vos dizer que a primeira paragem foi a Lagoa Azul, mas na verdade foi o aeroporto. Isto porque estávamos lá perto e, como não conseguíamos pôr o GPS que vinha com a caravana a funcionar, resolvemos ir comprar cartões de dados que nos permitissem usar o Google Maps. Finalmente, já com o Google Maps a funcionar e a orientar-nos devidamente, lá fomos nós em direcção à Lagoa Azul.
Se perguntarem a quem vive por lá, talvez vos digam que a Lagoa Azul é sobrevalorizada e que é demasiado turística e que talvez não mereça a pena o tempo - e o dinheiro - que vão gastar por lá, mas eu não podia discordar mais. A vista é soberba, e é toda uma experiência que vocês vão querer ter, vos garanto!
Antes de entrarmos há todo um ritual! Primeiro, dão-nos umas pulseiras que vão servir para fecharmos e abrirmos o nosso cacifo, e que vão ser 'lidas' de cada vez que quisermos pedir uma bebida no bar. O nosso pacote incluía uma bebida por isso, a primeira leitura da pulseira desconta essa bebida e só a partir daí é que se começa a pagar. Depois disto, vamos para os balneários, ficamos em trajes de banho, e seguimos para a zona dos chuveiros. Nesta altura temos instruções para nos lavarmos bem lavadinhos, que quem se quer banhar na Lagoa Azul tem de estar imaculado (ou quase!) e para pormos amaciador no cabelo porque a água, rica em sílica, vai secá-lo muito!
Depois de cumpridos todos os pré-requisitos lá entrámos e a vista era soberba! Sim, tinha algumas pessoas - como podem ver pelas fotos - mas andava-se confortavelmente lá por dentro, sem termos de andar aos encontrões a ninguém. Nós fomos logo fazer as máscaras a que tínhamos direito e fartámo-nos de rir com as nossas figuras com a cara toda 'lamacenta'. A água era um verdadeiro caldinho e só o contraste com o frio exterior permitia aguentar os 30 e muitos graus (37-39ºC) que se faziam sentir lá dentro.
Quando o calor começou a apertar a sério aproveitámos para pedir a nossa bebida fresquinha no bar e que bem que soube! Estivémos lá cerca de duas horas e tinhamos lá ficado mais algum tempo, não houvesse ainda um longo caminho pela frente.
E agora vou contar-vos o erro crasso que cometi: como tenho o cabelo bastante oleoso, e já tinha posto o amaciador no cabelo antes de entrar na lagoa, resolvi que se calhar até era melhor não voltar a pôr porque de certeza que aquilo não ia conseguir deixar o meu cabelo tipo palha. Mas deixou, e foi terrível andar com um cabelo quase impossível de pentear que só voltou ao normal com uma lavagem de cabelo prolongada, dois dias depois.
Depois de irmos a banhos estava na hora de nos fazermos, finalmente, à estrada. Se o caminho até à Lagoa Azul está repleto de pedregulhos e não é particularmente fascinante, a partir daqui tudo muda!
É certo que apanhámos o início do degelo e, por isso, a paisagem não estava verdejante como para quem visita a Islândia no verão, mas nem isso tornou aquela paisagem meio inóspita, menos bonita.
Pelo caminho não conseguimos evitar ir parando de cada vez que os ohh e ahh que soltávamos saíam seguidos de um 'temos de parar para tirar uma fotografia aqui'! E acreditem, não foram poucas as vezes que isso aconteceu. É tudo tão bonito, tão diferente e tão intocado que dá vontade de trazer um bocadinho disso para casa! E nós aproveitámos tudo isto para relaxar dos meses anteriores bem stressantes com o meu regresso do Japão, o planeamento do nosso casamento e a mudança de casa forçada.
Na primeira fotografia, lá em cima, podem ver o vulcão Eyjafjallajökull, aquele que entrou em erupção em 2010 e que fechou metade do espaço aéreo europeu, lembram-se? Neste momento está coberto de gelo e produz uma paisagem digna de se ver, não acham?
Também tivemos um encontro inesperado com os famosos cavalos islandeses e não resistimos a ir dizer-lhes um olá. Não se deixem enganar pela ausência de casaco quentíssimo na minha pessoa, porque estava mesmo um frio de rachar e só o quentinho que estava dentro da auto-caravana me permitiu uma saída rápida menos agasalhada para tirar esta fotografia (que adoro!).
Seguimos então para a primeira paragem programada do dia: Seljalandsfoss. O termo foss, em islandês, significa queda de água por isso, sempre que virem este nome já sabem que vos vou mostrar alguma. Nós vimos muitas, mas acreditem, não dá para nos cansarmos! Cada uma é dona de uma beleza tão única e perfeita que nunca sentimos que estamos a ver 'mais uma'.
Esta era maravilhosa porque nos permitia passar por trás da queda de água e se olharem para a foto com atenção conseguem ver as pessoas, minúsculas, na gruta criada na rocha. Escusado será dizer que a molha foi brutal e só os impermeáveis e o bom calçado nos impediram de ficarmos encharcados até aos ossos!
Mas a melhor parte desta paragem não estava à vista de todos, não não! Estava um pouco mais à frente, fora dos trilhos turísticos normais e era dona de uma beleza incrível e impossível de pôr por palavras.
Gljúfrafoss, mais conhecida por 'cascata escondida', fica quase ao lado da Seljalandsfoss, a poucos minutos de distância a pé. Quando finalmente encontrámos a fenda na rocha e ouvimos a água a cair com força, os nossos olhos nem queriam acreditar no que iam vendo enquanto nos aproximávamos a saltar de pedra em pedra. Juro que acho que fiquei de boca aberta durante uns bons minutos, até conseguir finalmente voltar a mim. Foi das coisas mais bonitas que vi na Islândia e deu uma das minhas fotos preferidas de toda a viagem!
A paragem seguinte foi Skógar, com a sua lindíssima Skógafoss. Primeiro tivemos de parar e fotografar as casas típicas da Islândia, que são fofinhas fofinhas e parecem saídas de filmes de elfos (ou hobbits). Dá vontade de explorar e ver que criaturas fantásticas vivem por lá porque, sejamos honestos, alguém acredita que vivem ali pessoas?
Já em Skógafoss, conseguimos subir até ao topo da cascata e vê-la de uma perspectiva diferente: de cima para baixo. Impressiona-me sempre ver a força da água, mesmo em cascatas que, como esta, tinham um caudal menos volumoso. O som é do mais relaxante que há e, por esta hora, eu já estava recomposta de todo o stress dos meses anteriores.
A caminho do local onde iríamos passar a noite, encontrámos este glaciar imenso - o Sólheimajökull - e cuja temperatura tão baixa criava uma condensação linda e que lhe dava um ar super misterioso. Claro que tivemos de parar e vê-lo de mais perto já que nós, portugueses, com este nosso clima mediterrânico, não estamos habituados a ver coisas destas todos os dias.
E aproveito para vos fazer uma confissão: sou uma bióloga loucamente apaixonada por geologia e a Islândia começou, desde logo, a despertar esta minha paixão e a mostrar-me que, sem dúvida, esta se ia tornar numa das viagens da minha vida.
Depois de um dia recheado de experiências fantásticas e de tantas paisagens de cortar a respiração, chegamos ao fim da primeira etapa da nossa road trip islandesa. E ainda tenho tantas coisas bonitas para vos mostrar!
Até lá, deixem-me todas as vossas dúvidas nos comentários. Prometo responder rapidinho, sim?
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