7 coisas que aprendi sobre mim em 4 meses no Japão

o que aprendi sobre mim a viver no japão

Vir para o Japão foi um desafio. Não só porque nunca tinha saído de Portugal para nada a não ser para férias, como era a primeira vez que ia viver efectivamente sozinha. A juntar a isso, um país cuja cultura era bastante diferente, e cuja língua desconhecia completamente.

Já vos contei que o primeiro impacto não foi fácil. Passei os dois primeiros dias a pensar onde é que me tinha vindo meter e a chorar que nem uma madalena arrependida. Mas depois, passou! Comecei a montar a minha petit maison e, com a ajuda preciosa da minha mãe, a dar-lhe um ar mais acolhedor e a conhecer os cantos à 'casa', que é como quem diz aqui à vizinhança.

Também ajudou perceber que os japoneses são tão delicados que é possível fazer uma vida perfeitamente tranquila sem falar uma palavra de japonês. Vou às compras pelo menos duas ou três vezes por semana e nunca me fizeram má cara quando percebem que não falo japonês. São uns fofinhos, é o que é.

Mas bom, o que vocês querem saber é o que é que eu aprendi sobre mim nestes meses, não é? Pois bem, aqui vai:

1. Adapto-me muito facilmente. Tenho um medo pavoroso da mudança. Acho sempre que vai ser muito difícil adaptar-me a novas situações e que por causa disso vou sentir-me muito triste e desolada e deslocada durante tempos infinitos. Não podia estar mais enganada! A minha capacidade de lidar bem com o novo e desconhecido é tão maior quanto mais assustador é o cenário que faço na minha cabeça.

2. Sou corajosa. Vir para o Japão sem saber falar a língua e completamente sozinha já pode parecer suficientemente corajoso para alguns. Mas vir para o Japão, não me fechar na minha petit maison, fazer compras, arriscar um pergunta em japonês (assim para o super básico), experimentar coisas novas (como andar numa montanha russa pela primeira vez!), comidas novas, etc., mostrou-me que sou capaz de arriscar, de superar os meus medos e de alcançar tudo aquilo a que me proponho.

3. Eu "chego" para mim própria. É verdade que tenho uma família maravilhosa, amigos do caraças, e um namorado que é só o melhor do mundo, mas quando estamos longe de todos, mesmo que acabemos por falar quase todos os dias, temos de depender apenas de nós próprios em diversas situações. Dependemos apenas de nós próprios para nos informarmos de como funcionam as coisas e para resolvermos uma série de limitações a que estamos sujeitos por não entendermos a língua em que nos falam, dependemos apenas de nós próprios para lidar com situações menos agradáveis e dependemos apenas de nós próprios para nos cuidarmos, para nos acalmarmos e para reagirmos. E, por muito que possa parecer difícil acreditar, nós somos mesmo 'o suficiente' para nós próprios, e é tão bom saber isso.

4. Sou bastante tolerante e optimista. Nem tudo é perfeito em Portugal, verdade! Mas, também no Japão as coisas estão muito longe de serem perfeitas. Há alturas do meu dia em que 'odeio' os japoneses, mas na maioria das vezes penso como vou viver sem esta forma deles serem. Tal como penso que há tanta coisa mal em Portugal, e dou por mim a ter saudades mesmo dessas coisas. Aqui aprendi que, provavelmente, seria capaz de viver em qualquer sítio do mundo, porque sou capaz de tirar (quase) sempre o lado positivo de tudo o que vivo!

5. Sou apaixonada por Portugal. Pode parecer parvo, e que todos os portugueses sentem o mesmo, mas eu sei que não é verdade. Há muitos portugueses a achar que o grande azar da vida deles foi terem nascido no país em que nasceram, sem pensarem que se calhar o problema do país foi ter visto pessoas como eles nascerem no seu território (mas isto era conversa que dava para um outro post ahahaah!). Eu sabia que adorava Portugal, muito antes de alguma vez ter saído de lá, mas falar sobre o nosso país com os olhos a brilhar e o coração apertado de saudade? Nunca me tinha acontecido a não ser aqui. E com tanto entusiasmo, e fotografias bonitas para mostrar, não foi difícil convencer a minha amiga japonesa e o marido a irem visitar-me a Portugal!

6. Preciso muito de tempo para mim própria. Foi já aqui no Japão, sujeita a menos pressões e estímulos exteriores, e com uma rotina completamente diferente, que me incluía apenas a mim própria, que consegui o tempo e o 'espaço mental' para pensar a sério na minha vida (talvez) em anos. E percebi que preciso desesperadamente de tempo para parar, para des-stressar, que me permita dedicar aos meus próprios pensamentos, limpar a cabeça e deixar as ideias fluir. O Japão foi - e está a ser - essencial para me ajudar a definir o meu futuro e para me dedicar a pensar naquilo de que realmente gosto, com muitos projectos bonitos a verem a luz do dia e com muitas outras ideias (e surpresas) que serão partilhadas a seu tempo.

7. Sei valorizar as pequenas coisas e sentir-me feliz com elas. Sou uma pessoa de gostos simples, de pedidos simples e encontro a felicidade nas mais pequenas coisas. Quer seja uma compra no supermercado em que acertei exactamente no produto que queria, o ajudar alguém dentro das minhas limitações linguísticas, o conseguir ler meia dúzia de palavras em hiragana, ou o escolher pratos ao calhas de um qualquer menu e acabar com uma mesa cheia de comida deliciosa, as hipóteses são infindáveis. A verdade é que é raro o dia em que não acontece algo que me faz sorrir e sentir genuinamente feliz!


O que é que acham? Já valeu a pena ter vindo para fora? Ahahaha! Eu não trocava esta experiência por nada deste mundo e, apesar de haver muita gente cheia de medo de o fazer, acho que era tão bom todos terem esta oportunidade! Ajuda-nos imenso a valorizar o que temos mas, acima de tudo, a valorizarmo-nos a nós próprios.

E vocês, já passaram por esta experiência? Que 'lições' tiraram dela? Fico à espera dos vossos comentários :)


32 comentários:

  1. Viajar/mudar de país por algum tempo é sempre uma boa oportunidade para nos conhecermos melhor! Parabéns pela mudança e pela coragem ;)

    Days of Blues

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    1. Obrigada Sónia! Foi uma grande mudança, sem dúvida, mas uma experiência que não mudaria por nada deste mundo :) *

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  • Margarida Ribeiro e Silva9 de fevereiro de 2016 às 14:14

    É sempre bom vivermos situações em que percebemos que somos muito mais do que aquilo que julgávamos, que somos mais fortes e aguentamos situações até então impensáveis! Estás radiante, Catarina, vê-se mesmo que estás feliz por aí :) E com um mega cabelão!! ♥

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    1. Completamente Gui! Viver uma experiência destas mostra-nos mesmo de que fibra somos feitos, e é bom perceber que somos muito mais fortes e corajosos do que pensávamos :) Ahahaha está mesmo enorme! Ansiosa por chegar a Portugal para poder cortá-lo :p beijinhos*

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  • Já estive a viver fora de Portugal, mas foi por períodos de tempo curtos, um mês na Grécia e quase dois meses na Holanda e concordo com tudo o que referes. Também acho que nos primeiros dias é sempre difícil e estranho e depois passa porque nos adaptamos ao que é diferente.
    Parabéns pelo post =)

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    1. É verdade Inês! No início é tudo muito estranho, especialmente aqui onde não conhecia os caracteres nem a língua... mas depois uma pessoa habitua-se e as coisas já não parecem fazer-nos tanta confusão :) Obrigada pelas tuas palavras e um grande beijinho*

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  • Aprendeste coisas muito importantes e sem dúvida é uma experiência para a vida.:) Mas já que falas nisto, perdoa-me a curiosidade, foste para aí estudar ou trabalhar?

    beijinhos,
    Daniela

    Another Lovely Blog!, http://letrad.blogspot.pt/

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    1. É mesmo Daniela! Estou a adorar a experiência, mas já estou a morrer de saudades de casa (e do meu gato :p ). Podes perguntar à vontade :) vim trabalhar. Trabalho em investigação e colaborávamos com o laboratório japonês onde estou agora há uns 5 anos e por isso surgiu a hipótese de vir aprender umas técnicas novas com eles e eu disse que sim :) beijinhos*

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  • Desde há uns tempos atrás, tenho uma curiosidade imensa em conhecer o Japão e a cultura japonesa. Também já passei algum tempo fora do país e, tal como tu, descobri que sou uma apaixonada por este cantinho à beira-mar plantado. Acho que só quando estamos longe é que lhe damos o devido valor. No entanto, gostava imenso de voltar a viajar, mas com regresso marcado. Fazer uma espécie de gap year ou voluntariado internacional durante uma temporada. Talvez quando entrar nos trinta tenha a estabilidade necessária para tal! Até lá, vou sonhando e deliciando-me com a tua partilha de experiências por aqui :)

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    1. Olha Catarina, acho que quando queremos muito as coisas não importa a estabilidade :) no fundo isso é só uma ideia de alguma coisa que achamos que é necessária e que criamos na nossa cabeça. Imagina, se queres vir um ano para o Japão, porque não tentas vir dar aulas de inglês? Porque não te candidatas a um programa de internship, ou algo assim, e que até possa fazer sentido mais tarde na tua vida profissional? Se queres mesmo, força! Não adies com a 'desculpa' da estabilidade :) O Japão é um país lindo, e eu tenho imensas fotografias para partilhar convosco e para comprovar que não estou a mentir :) beijinhos*

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  • Que bom de ler, Cat! De facto é uma aventura e pêras, e quando temos obrigatoriamente que nos desenrascar sozinhas aprendemos tanto! És um exemplo, rapariga <3

    Jiji

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    1. Ohhh Jiji, de cada vez que leio as tuas palavras tenho vontade de te dar um xi-coração bem apertado! Qual exemplo qual quê? :D sou só uma pessoa normal que teve uma oportunidade única e foi suficientemente esperta para não recusar :p um beijinho enorme querida*

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  • Desde que soube que estavas no Japão que andava à espera de uma publicação deste género! O Japão é um país com uma cultura tão própria que me despertou logo a curiosidade saber como te estavas a dar por lá e que coisas tens aprendido sobre ti. Gostei mesmo muito de ler este post :)


    www.asofiaworld.com

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    1. Ahahaha a sério Sofia? Que giro saber :) ainda bem que gostaste (e que as expectativas não sairam defraudadas :p). E nós somos todos muito mais parecidos do que aquilo que inicialmente idealizamos. A adaptação, não fosse a lingua e os caracteres estranhíssimos, tinha sido muito fácil :) agora até já faço vénias como deve ser :p Beijinhos*

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  • tenho adorado estes teus diarios desde que te mudaste.. estranhamente comecei a prestar mais atenção ao teu blog, digamos que adorei e admiro a forma como te adaptaste e puseste sempre as diferenças :D muitos parabens
    beijinhos

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    1. Ohh obrigada Jessica! Fazem-se os possíveis :p confesso que agora já tenho muitas saudades de casa, mas adorei (e estou ainda a adorar) esta experiência e não a trocava por nada deste mundo :) beijinhos e obrigada pelo teu apoio *

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  • Quando li que apenas tinhas chorado 2 dias, conclui logo o primeiro ponto :P
    O máximo que estive fora e longe foram 3 semanas e meia e nem dei por elas, mas os relatos de quem já esteve mais tempo (ou foi com intenção de estar mais tempo) são de semanas ou meses de choro.

    Que continues a aproveitar a experiência e a contar-nos é o que desejo :)

    Rui Quinta

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    1. Ahahaah Rui, era assim tão óbvio? :p ahh sim, eu nem me teria dado para o choro se fossem só três semanas e meia (não desfazendo, mas nem ia dar para sentir saudades de Portugal :p aliás, para te ser sincera, só agora é que as saudades começam a apertar forte). Também já ouvi histórias de pessoas que passam muito mal durante imenso tempo, mas acho que hoje em dia, com a facilidade da internet e assim, as coisas acabam por se tornar mais fáceis :)

      Vou continuar a contar tudo, claro! Por isso fica desse lado :) *

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  • Acho que já valeu a pena! Gosto imenso de viajar mas não há nada como o nosso Portugal!
    Beijinhos,
    Sofia

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    1. Sofia, o nosso Portugal é um país magnífico, com todos os seus defeitos (porque a verdade é que os defeitos existem em todo o lado). Mas faz bem às pessoas irem para fora para aprenderem a dar mais valor ao que têm (especialmente aquelas para quem tudo em Portugal é uma porcaria) *

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  • Ana Burmester Baptista13 de fevereiro de 2016 às 22:40

    Eu defendo a teoria de que devíamos viver sozinhos, longe da família, amigos, etc, etc pelo menos 6 meses para sermos gente. Fi-lo - mais ou menos, tinha família, mas os Pais não estavam à distância de um braço - e adorei. Apredni uma série de coisas de tal maneira que hoje, a viver com 2 homens (calma, o meu marido e o meu filho, ok?) tenho saudades dessa altura - naqueles dias em que nem fechada no armário tenho sossego :P.
    Falei imenso comigo (ainda hoje, farto-me de falar sozinha), arrumei as coisas como queria e mudava o que me apetecia sem dar cavaco. Jantava o que me dava na real gana. Engordei 5 quilos (que já lá vão.... :D).
    É como tudo, todas as experiências são boas e servem para nós crescermos. E é ainda melhor quando temos juízo e sabemos aprender com elas! De qualquer modo, vê lá se voltas que temos coisas para conversar!! :D

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    1. Aii Ana, palavras tão sábias! Acho mesmo que uma experiência deste género me fazia falta enquanto ser humano, para poder crescer e para me poder desafiar a mim própria e foi tão bom! Estudei em Lisboa, sempre em casa dos meus pais, e quando saí de casa foi para ir viver com o Ricardo, por isso nunca tinha dependido só de mim, num país tão diferente e tão longe de tudo, e foi óptimo! Sinto-me ainda mais eu, se é que isso é possível :)

      Ahahaha estou quase a voltar Ana, quase quase (e estou ansiosa pelo(s) nosso(s) café(s)). Beijinhos*

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  • é preciso ter coragem para ir viver para outro país, mas mais ainda quando esse país fica no outro lado do mundo e tem uma cultura tão diferente da nossa! não há como não te admirar por isso :)

    a experiência mais semelhante que tenho foi quando fiz Erasmus na Polónia. Também foi muito bom para me conhecer, e revi-me na maioria desses pontos que abordaste!

    beijinhos
    18 and a life ♡

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    1. Ohh Sara :) obrigada pelas tuas palavras! É verdade que a cultura é diferente, mas no dia-a-dia acaba por não se notar assim tanto, só mesmo num pormenor ou outro.

      Elá, Polónia também deve ser interessante! Só estive lá uma vez num congresso, mas gostei e fiquei com vontade de regressar para explorar mais a sério :) quando lá for mando-te email :) *

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  • De facto, sair de Portugal para ir para o Japão deve ter sido uma mudança brutal. Foi muito corajoso da tua parte e sem dúvida um grande teste.

    Cátia »« Blog Meraki

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    1. Obrigada Cátia :) só fui mais doida porque pensava que não era preciso saber japonês nenhum :p mas afinal eles quase não falam inglês ahahaha! De qualquer das formas estou a adorar (mas já com muitas saudades de Portugal) beijinhos*

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  • Olá Catarina, descobri o teu blog através do bloggers camp que por sua vez descobri através do blog "Viver a viajar". Estou a devorar todos os teus posts :) Este tocou-me especialmente pois já vi no Alaska e apesar de ter sido bastante difícil na altura, aprendi imenso e não trocava isso por nada. Também na altura aprendi a valorizar imenso Portugal, pois ao contrário de ti, sempre achei que não gostava assim muito do nosso país. Desde miúda que dizia que queria viver fora precisamente por não gostar do nosso país. Bastou-me esta experiência para perceber que estava completamente errada! :)
    A partir de agora vou seguir todos os teus novos posts.
    Beijinnho*

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    1. Ohhh que lindo Ana! Eu sempre fui apaixonada por Portugal, e ir para fora fez-me perceber que não estava errada ao sentir-me assim! Temos um dos países mais perfeitos do Mundo e às vezes damos-lhe tão pouco valor... Adorava saber mais sobre essa tua aventura pelo Alaska! Talk about remote places, hã? :p Beijinhos*

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